Irresistible - Capítulo 34

Irresistible - Capítulo 33:  "É, definitivamente ele não vai sair desse banheiro tão cedo."

* My Biggest Hero *


  
Allison P.O.V.

Eram dezessete horas de uma quarta-feira fria no dia vinte e dois de fevereiro quando ela me ligou. Na hora, eu estava tomando um iogurte de morango e terminando de digitar a minha redação de quatro páginas para a faculdade. Não, na boa, eu estava me sentindo muito gratificada naquela hora. Eu tinha conseguido digitar as coisas mais geniais que me vieram na mente em toda minha vida, estava impecável, e eu merecia um A+ com certeza.

Então, meu celular vibra. Vejo no visor Papai e automaticamente sorrio. Salvo meu trabalho e coloco para imprimir enquanto pressiono o botão para aceitar a chamada.
A: Papai! Como vai? - Mas não, não é a voz rouca e fraca de uma velhice nada saudável que eu normalmente escuto quando meu pai me liga. Era Juliet.
Jul: Allison. - Ela começa com a voz embargada. Eu estava confusa naquele momento, Juliet sempre falava comigo quando meu pai ligava, mas ele sempre falava primeiro. - Seu pai... - Ela não conseguia falar direito. Eu estava começando a entender, mas não conseguia acreditar. Respirei fundo, e comecei a chorar.
A: Quando? - Eu disse tentando manter a calma. Todo mundo passa por isso um dia, e sim, eu já estava esperando. Não. Eu não consigo manter a calma. Eu via que ela não ia conseguir responder, então, ficou o silêncio das nossas respirações chorosas.
Jul: Allison. - Ela diz parando para respirar e eu quase podia ver a mão dela no peito, que assim como o meu, devia estar dolorido. - Você precisa vir.
A: Vou pegar o primeiro avião que eu conseguir. - Deixei o telefone cair ainda pasma. Não consigo descrever o que eu sentia naquele momento. Fechei o computador e corri para o quarto. Zayn estava dormindo. - Zayn. - Eu sussurrei fraca, e chorando, molhando seu peito nu com minhas lágrimas. - Por favor, acorde. - Então, por incrível que pareça, ele abriu os olhos. Respirei com dificuldade, ele esfregou os olhos e olhou para mim.
Z: O que aconteceu? - Ele disse com a voz rouca de uma pessoa pré-acordada.
A: Meu. Pai. - Zayn arregalou os olhos e me abraçou. Beijou minha testa.
Z: Vai ficar tudo bem. - Ele diz. As pessoas têm mania de nos dizer isso. Foda-se que vai ficar tudo bem. Meu pai acabou de morrer não vai ficar tudo bem o.k.? Eu estava começando a ter um pequeno colapso de raiva, e aquele sentimento de injustiça na sua vida. - Vamos pegar um avião. - Assenti com a cabeça.
A: Vou tomar banho. - Acho que de todos no mundo o box do banheiro era o meu favorito. Me despi e entrei. A água escorria quente. Liberei todo o meu sentimento. No box do banheiro não teria ninguém para me dizer que tudo vai ficar bem, ou me pedir por favor, que pare de chorar. E assim se foi. As lágrimas pareciam nunca acabar. Fiquei um bom tempo lá. Eu estava sendo egoísta, eu sei. Eu me afastei e deixei que o Zayn cuidasse de tudo. Pobre Zayn, ele já deve ter arrumado as passagens de avião e tudo. Mas eu não estava conseguindo me sentir mal por causa disso. Me troquei. Arrumei as malas e vi os garotos na sala. Não sei quanto tempo se passara, eu só sei que estavam todos na sala com cara séria e me esperando. - Vamos embora. - Eu disse. Peguei a minha mala e os meninos as deles. Apoio de amigos. Era isso que eu precisava no momento. Quero dizer, aquelas cinco pessoas eram o mais perto que eu tinha de uma família agora.

[...]

Nos acomodamos nas poltronas do avião. Zayn me puxou para deitar em seu ombro. Eu molhava sua camisa de algodão, enquanto ele afagava meu cabelo. Acho que foi a primeira viagem de avião dos meninos em que eles ficaram completamente em silêncio. Nenhum grito, nenhum palavrão, nada insensível. Apenas a troca de poucas palavras sussurradas. Eu sei que eles estavam fazendo aquilo por minha causa, eles deviam estar em completo tédio apenas para não me chatear. Não. Eu não me sinto mal por isso. Pousamos. Zayn pega na minha mão. Fremont. Devo dizer que eu senti falta daqui. Pegamos um táxi para a casa do meu pai. Juliet estava na porta, com um vestido preto simples. Corri para os braços dela, soluçando sem parar.
Jul: Ally. - Ela diz olhando para mim e segurando meu rosto com as duas mãos. Respondo algo em sussurro e entro na casa. Zayn ao meu encalço. O cheiro daquela casa me trazia lembranças que doíam na alma. Bem lá no fundo. O velho balanço de pneu no fundo do quintal pendurado na árvore que meu pai colocara há anos atrás. Os quadros da minha mãe, fotografias em preto e branco, a penteadeira que eu sempre amei. E o corpo. O corpo dele. Aquilo foi demais pra mim. Estava coberto com um lençol como se ele tivesse sido assassinado. Já no caixão. Eu não conseguia parar de pensar naquele caixão. Certa vez meu pai me levou para escolher um caixão. Há anos atrás. Ele não me disse que era para ele, mas eu sabia que era, não tinha como não saber, eu seria muito tola, as pessoas tinham tirado até suas medidas, e aqui está. Na minha frente.
O caixão foi levado para a igreja, onde foi colocado no altar. Quando eu era mais nova, minha mãe me levava a igreja todos os domingos. Eu nunca tive essa coisa religiosa, mas meu pai e minha mãe levavam tudo com severidade. E muitos indivíduos estavam lá. Eu conhecia seus rostos de muitos anos atrás. Pessoas velhas que diziam para mim quando eu tinha doze anos: "Eu te peguei quando você tinha dois meses, lembra de mim?". Confesso que eu nunca gostei dessas pessoas, elas sempre apertavam minha bochecha demais, e sempre diziam que eu havia crescido muito. Era pura chatice. Mas agora, eu conseguia sentir um extremo afeto por elas. Por estarem aqui, sentindo dor como eu. Todos se sentaram, todos com a mesma roupa padrão de um enterro. Até mesmo os meninos tinham se trocado em casa. Todos eles vestiam ternos pretos muito sérios. Olhei para a minha roupa. Eu estava ocupada demais sentindo a dor, para me preocupar com vestimentas. Eu vestia uma calça jeans velha e rasgada, e meus All-Star Chuck Taylors, com uma blusa azul também velha. Não me arrependo. Um senhor negro que aparentava 60 anos, mas muito saudável, começou a falar no microfone. Eu não conseguia tirar os olhos do corpo do meu pai, e escutando soluços dos velhos amigos dele. As pessoas da igreja, as pessoas com quem ele jogava bingo. Aquelas pessoas não sabiam o quanto significava para mim a presença delas. Todos deram as mãos. Zayn não tirava os olhos de mim, como se qualquer hora eu começasse a gritar e me desesperar. Seria bem a minha cara fazer isso, como uma criança desesperada.
Xx: Boa-noite senhoras e senhores. - Disse o homem negro.  O relógio estava marcando oito horas da noite agora. - Estamos todos reunidos aqui, em nome do bom homem que foi Benjamin Forbes. Que Deus o tenha e o abençoe. - Baixei a cabeça enquanto ele falava. Minutos depois todos começaram a rezar. Eu pensava na morte. O que acontece quando você morre? Você fica observando os vivos na Terra mesmo que eles não consigam te ver? Isso parece uma interpretação ridícula, da qual eu não creio, mas se realmente acontece, o que estaria meu pai pensando? Ele estaria decepcionado comigo? Definitivamente. Eu nunca sequer o visitei todo o tempo que eu estou na Inglaterra. Tipo, puxa Ally, você não pode nem dar um alô pessoalmente para o seu velho? Não, eu sou egoísta demais para isso. Por todos esses meses, eu usufruí do dinheiro que meu pai mandava para mim, para pagar a faculdade e o que eu precisava para sobreviver. Parece que eu vou ter que arrumar um emprego agora. Penso nisso e escuto meu nome - Allison Forbes -  soar no microfone. Levanto a cabeça depressa. Estavam me chamando para fazer um discurso. Me encaminhei para o altar da igreja. Apertei a mão de Juliet, e me posicionei no móvel que tinha lá com um microfone e uma bíblia. Puxei o microfone.
A: Meu pai - Eu disse com a voz embargada, tentando conter o choro, já com o rosto muito, muito vermelho. Dei uma última olhada no corpo dele no caixão. Há uma frase em A Culpa é Das Estrelas que diz o seguinte: "Ás vezes, o osteossarcoma leva um dos membros só para dar uma sondada em você. Depois se gostar, leva o restante."  no caso do meu pai, não existia osteossarcoma. O caso dele era um caso grave e bem raro de leucemia, mas a aparência do seu corpo, era como se ele tivesse sido levado pelo seu câncer. A cabeça desprovida do seu antigo cabelo por conta da quimioterapia, as bochechas flácidas, a expressão sempre tão cansada. Ele estava cansado de lutar contra isso. - Foi um homem muito bom. Desde que eu era muito pequena, e o Senhor levou a minha mãe, ele tem que fazer os dois papéis. De pai, e de mãe. Era o meu pai que cuidava de mim quando eu estava doente, ele sempre fez tudo, me acompanhou de todas as formas mesmo tendo que lutar contra o câncer. E ele lutava por mim. Por nós. Agradeço o apoio de todos vocês. Todos nós aqui queríamos que ele vivesse mais, e continuasse sendo aquela pessoa maravilhosa que ele sempre foi. E eu... - Eu recomecei a chorar. Droga Allison, pare. - Eu vou sentir muita, muita falta dele. - E as palmas vieram das pessoas que tinham condição. Tristeza. Eu odeio funerais, sempre odiei. Eu sou sensível demais para um funeral, e eu só queria que por um raio de milagre meu pai levantasse daquele caixão como uma pessoa saudável de novo. Abracei a Juliet soluçando. - Está tudo bem. - Eu disse sussurrando, e voltei para o meu lugar ao lado de Zayn, que estava lá para me confortar e me abraçar de lado.


[...]

A: Como aconteceu? - Eu disse em referência a como o meu pai morreu, quase forçando uma Juliet muito cansada após enterrar o caixão no cemitério, a me dizer. O epitáfio da lápide dele. "Aqui jaz Benjamin Forbes. O nosso maior herói. 22 de fevereiro de 2014." Admito que eu precisaria de pelo menos meses para colocar o que meu pai era para mim, mas que com certeza, ele era o meu maior herói.
Jul: Ele estava na UTI há quatro dias Ally. - Prendi a respiração. Por que eu não liguei? Por que isso aconteceu comigo? Com o meu pai? Por que uma pessoa tão boa como ele tinha que ir assim? Senhor, eu estou no inferno. - E então, não tinha mais jeito. O doutor disse que não adiantava mais. Seu pai faleceu vinte minutos antes de eu te ligar. Eu sinto tanto, Allison. - Aquilo doeu. Não tinha mais jeito. UTI há quatro dias. Isso é bem mais que o inferno, merda. Engoli todos os palavrões e toda a vontade que eu tinha de sair por aí chutando tudo que eu visse pela frente, aquilo queimava minha garganta e o estômago como fogo. Limpei a última lágrima. Ajudei a pobre Juliet fraquinha a se deitar na cama e coloquei o cobertor sobre ela. Estava na minha hora de começar a cuidar das pessoas mais importantes da minha vida. Beijei a sua testa e sussurrei um "Me desculpe" muito baixinho, que acho que ela não pôde escutar. "Me desculpe, por estar tão distante, me desculpe por ser uma filha ruim, por nunca estar presente" eu deveria dizer isso ao meu pai, bom, acontece que eu não posso mais.
Jul: Allison - Ela disse. Me virei de novo para encará-la. - A carta. - Ela disse, abrindo a gaveta da cômoda e pegando um envelope. - Seu pai mandou eu te dar. Foi uma das últimas coisas que ele disse. "Entregue a Ally." - E se deitou de novo com um leve sorriso. Meus olhos brilharam. Já ia perguntar porque ela não me deu aquilo antes, mas quando vi, ela já tinha dormido. Sorri e fechei a porta com cuidado. Os meninos me esperavam na sala. 
Z: Está tudo bem? - Zayn pergunta um pouco receado, meu Deus, como eu queria sair por aí agradecendo o apoio que eles me deram, e me desculpando pelo meu desespero, eu via o quanto eles estavam preocupados. Aqueles cinco meninos são meio que tudo para mim agora. Assenti com a cabeça, e me aconcheguei nos braços de Zayn.
A: Vamos para o hotel? - Eles fizeram que sim. - Obrigada por tudo, meninos.

* * *

Me acomodei na cama macia do hotel, olhei para o Zayn dormindo. Olhei para o relógio, meia-noite. Acendi o abajur ao lado da cama e peguei o envelope na bolsa. 

"Querida Ally, 
Quantas saudades eu sinto de você, filha. Agora eu estou aqui nesse hospital horrível. Você sabe bem como eu odeio esses lugares. Se você está lendo isso, então eu provavelmente já não estou mais aí, certo? Eu lamento filha, mas eu não posso viver pra sempre. Sabe, deve ser incrível receber uma carta de uma pessoa que já morreu. Sério, você tem que guardar isso com todo carinho o.k.? Bom, Allison, parece que você ainda é uma criança. Eu escrevi isso, justamente para te consolar. Provavelmente você está tendo colapsos aí, me lembro do seu desespero quando a sua mãe se foi. Bom, talvez nesse momento que você está lendo isso, nós dois estamos aqui, muito orgulhosos da mocinha que você se tornou, te observando juntos, do céu. Também escrevi isso por mais uma coisa. No envelope que eu te mandei, tem um bilhete de loteria. Eu não sei se a Juliet te disse, mas eu ganhei na loteria, de verdade. Não é incrível?" - Li aquilo de novo. Eu fiquei com vontade de rir. Rolar de rir no chão. Não, na moral, ele escreveu uma carta mencionando que ganhou na loteria. Ele ganhou na loteria, e faleceu. Nossa, muito, muito legal. - "É muito incrível. Foi muito engraçado na verdade, foi ontem que anunciaram o número do bilhete vencedor, e era eu, numa cama de hospital, quero dizer, não me deixaram comemorar devidamente - por eu não poder pular de alegria e tudo mais - mas eu estou muito, muito feliz. Acho que Deus quis me levar, mas quis que você vivesse sua vida como você sempre quis, Ally. Eu estou falando sério querida. Sua mãe vai ficar tão brava comigo pelo que eu fiz com você. Ai meu Deus, acho que você nunca esperava que eu dissesse, ou melhor, escrevesse, para você largar a faculdade. Não está acreditando? Pois é verdade. Meu Deus, eu estou me dando conta agora que eu não deixei você viver seus próprios sonhos! Isso é muito, muito injusto, me desculpe filha. Mas agora, irônico, eu tenho dinheiro o bastante para bancar os seus sonhos, e não tenho mais a oportunidade de ver você realizando... Hum, não me expressei bem, mas eu não tenho como apagar a caneta. Eu vou sim te ver, e ficar mais que orgulhoso de você. Viva os seus sonhos, Allison. Se torne a atriz que você sempre quis ser, participe de filmes e tudo mais. Eu te amo filha, muito, muito, muito, muito.

Com IMENSO carinho, Papai 
20 de fevereiro de 2014"

Sério, eu não conseguia parar de sorrir. Reli a carta umas boas cem vezes e guardei quase beijando o papel. Eu não conseguia acreditar. Aquilo foi dois dias atrás. Meu pai, meu Deus, tudo por uma surpresa. Aquele cara. Nem para me ligar. Meu Deus, eu não consigo colocar em palavras o que eu estou sentindo, quero dizer, ai meu Deus. O defeito do meu pai é ser tão carinhoso e engraçado. Mesmo perto de morrer, na UTI, fazendo tratamentos para leucemia, ele ainda faz piadas. Pai, eu vou sentir muito a sua falta...
Aquela carta me fez aguçar todos os sentidos que eu estava ocupada demais para sentir. Ocupada sentindo a dor. "Esse é o problema da dor - O Augustus disse, e aí olhou para mim. - Ela precisa ser sentida." - A culpa é Das Estrelas. Ocupada demais, para perceber que eu estava de novo no meu estado natal, a Califórnia, e que pela primeira vez em o que devem ser o quê? Duzentos anos? Bem, não importa. Eu estava sentindo frio.



4 comentários:

  1. Dude, was an emotional chapter, I cried here! I'm loving this fic, really. Go girl!

    Okay, it was really weird, but I really cried, and I'm rally loving this fic. U'r an amazain writer!

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  2. Ah Deus. Vocês têm noção do quanto eu amo quando as pessoas comentam no blog. Não, na moral, é muito gratificante. Elogios. Você ama me elogiar, não? Mas sério, eu não tinha o propósito de fazer ninguém chorar nesse capítulo, mas perder o seu pai é uma coisa bem delicada. Eu ri do fato de eu criar "um lago" por causa desse capítulo. Talvez um dia eu crie um oceano com os capítulos que estão por vir, quem sabe? Por ora, eu agradeço pelos elogios. Falando nisso (não, não tem nada a ver) hoje pelas minhas contas, TMD completa cinco meses YAY! (: #HappyBdayTMD
    Malikisses and Horanhugs <3

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  3. Really?! I miss TMD =' #1minuteofsilence . I'm emotional, what can I do? Nothing! But you are an AMAZAYN writer.

    "Z: Vou ficar peladinho! Vou ficar peladinho! Hey senhor do outro lado! - Ele gritou para o velhinho que estava sentado do lado oposto em outro teleférico, e eu sussurrava para mim mesma "Por favor não faz isso, por favor não faz isso" e ria mentalmente ao mesmo tempo. - Eu vou ficar peladinho!" Forbes, Ally

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