Irresistible - Capítulo 35

Irresistible - Capítulo 34: Bem, não importa. Eu estava sentindo frio.

Me...mories

Eu dormi cerca de quarenta e cinco minutos naquela noite. Eu devia ter descansado, confesso, mas eu estava mais uma vez ocupada demais, dessa vez, pensando na morte. 

A morte em si faz parte da vida. O irônico é que cada dia que você vive, você está morrendo, e não vivendo. A vida não volta atrás, então, a cada dia que se passa, você simplesmente está cometendo um suicídio não-opcional. É simples. A morte, propriamente dita, faz parte do ciclo-da-vida, não tem como evitá-la simplesmente. 

Então, por que nós seres humanos dotados de tanta capacidade mental ainda sentimos a morte como uma bala afundando no peito cada vez mais dolorida? Não há resposta para essa pergunta, pois nenhum ser-humano é desprovido de sentimentos. Ninguém mesmo. E acredito que se houvesse alguém assim, o mundo estaria mais fragmentado do que ele já é.

Além de pensar na morte, - como egoísta que eu sou - também pensei na minha vida. Pensei que desde os dezoito anos eu ando desperdiçando-a. O que eu esperava fazer com um diploma de direito em mãos? Ser advogada? Juíza? Não faço ideia, mas com certeza alguma merda fútil que eu ia reclamar para o resto da vida. Por um momento eu fiquei brava com o meu pai. Eu nunca vou entender claramente porque ele me obrigou a fazer a faculdade de Direito, e depois simplesmente mandou eu largar essa faculdade. Não, na moral, meu currículo teria uma frase do tipo "Direito em curso." ?! Bom foda-se, agora não dá para voltar atrás, e eu não tenho direito de ficar brava com o meu pai. Porque ele sempre cuidou de mim e nunca deixou nada faltar, sempre esteve presente ativamente na minha vida, e/ou fez o máximo para estar? Isso também, mas porque ele está morto. Pensei no quão desleixada eu era na faculdade, e que meu Deus, o que eu vou fazer da vida?

Sério. Digo, eu vou mesmo largar a faculdade de Direito para substituí-la por uma de teatro? É, meio que isso. Na verdade, foi a hora perfeita. Como já eram três horas da manhã na hora que eu comecei a pensar nisso, significava que já era dia vinte e três de fevereiro. Contei nos dedos os meses, e descobri que dia primeiro de março faria exatamente um semestre de aula. Ou seja, eu teria que ser a pessoa mais eficaz do mundo. Resolver as coisas para largar a faculdade - Nessa hora eu pensei "Meu pai podia estar aqui para me ajudar. Merda" - Além de, meu Deus, fazer testes para ver se me aceitam nas faculdades de teatro. Isso significava: 

1. Beber cinco litros de café do Starbucks por dia;
2. Nunca dormir;
3. Ensaiar, ensaiar, e ensaiar.

Na boa. Eu fiquei em média o meu Ensino Médio todo fazendo aulas de teatro, entretanto, agora eu devo estar péssima... Observação: Usar os meninos para me ajudar a atuar.

Então, no resto da noite eu fiquei repassando o meu dia na cabeça várias vezes. Dezessete horas da tarde; trabalho de redação exemplar; a cara do Zayn quando eu disse, respirando com dificuldade, "Meu.Pai" - Sinceramente, foi muito engraçado aquele momento, quer dizer, ele automaticamente arregalou os olhos e me abraçou, como um robô, e ele mal tinha acordado ainda. Acho que me ver chorar o despertou, o que é engraçado, eu choro por muita coisa atoa. - Eu teria rido na hora, se eu não tivesse tão desesperada. Aliás, meu dia foi um total desespero, e no final das contas, a carta. Não consigo parar de pensar nisso um minuto.

Deus, eu sou órfã. - Foi a última coisa que eu pensei antes de cair no meu sono de quarenta e cinco minutos.

* * *

Ficamos mais dois dias na Califórnia antes de retornar para a Inglaterra. No primeiro dia lá, eu passei um bom tempo com Juliet, ela chorava tanto, que eu também desabava ás vezes - quase sempre -, tentei consola-la ao máximo, mas eu era muito fraca para isso, e eu não poderia explicar para ela meus pensamentos insensíveis da noite anterior. E no segundo dia, eu levei os meninos para conhecerem alguns lugares que eu ia quando eu ainda morava em Fremont - Quase três anos atrás.

A: Essa é a minha caixinha-de-memórias. - Eu disse pegando uma caixa no fundo do guarda-roupa que eu tinha trazido para a casa de Zayn, já que o guarda-roupa dele não cabia nossas roupas. Trágico, já que tanto ele quanto eu, tínhamos muitas. - Está cheias de fotos da minha vida, e tudo mais.

Z: Uau - Zayn disse pegando uma foto de quando eu tinha uns onze anos. - Santo Deus, você sempre foi tão pequena? - Ele apontou para mim na foto, quase a menor da turma, salva por Betty Conors, que tinha um metro e vinte e nove na época.

A: Aham, sempre. Mas hoje eu tenho uma altura perfeitamente normal, o Harry que é alto demais.

H: Talvez. Quem pode, simplesmente pode.

N: Essa foi bem idiota. - Disse Niall dando um tapa nas bolas de Harry. Sim, os meninos estão fazendo isso agora, então cada vez que alguém fala uma merda, isso acontece. Deve doer. Os meninos se deitaram na nossa cama se espremendo, pois não cabia seis pessoas. Colocamos os pés pra cima como crianças. 

Lo: AH MEU DEUS, UMA FOTO DA FORBES PELADINHA. - Oh não. Os meninos puxaram a foto e começaram a rir.

A: Oh Deus, me dêem isso. - Eu disse puxando de novo a foto e me esforçando para não morrer de rir. Pobre eu pequena. Eu devia ter uns cinco anos na época, estávamos eu e meu pai na praia.

H: Noussa Zayn, você tem muita sorte de estar pegando a Ally. Muito gostosa. - Harry disse ainda gargalhando acompanhado dos meninos. 

A: Idiota. - Eu respondi, dando um tapa em suas bolas. Isso era até legal, na verdade.

H: Ai. 

N: Quantos anos você tinha aqui? - Pergunta Niall, pego a foto em preto-e-branco da sua mão e examino.

A: Ah Niall. Não sou eu. É a minha mãe. 

Li: Sério? Uau, você e ela são completamente iguais. 

H: Ela é bonita. 

Z: É. - Eu suspiro. Aquela era uma das únicas lembranças que eu tinha da minha mãe. Na foto ela devia ter nove anos. Somos iguais, exceto pela cicatriz que ela tinha perto do olho. Guardo a foto no fundo da caixa, junto com outra dela com o meu pai no casamento deles. Pego uma foto minha com Zach.

A: Então - Eu digo com um sorriso. -, quem aqui está a fim de queimar minhas fotos com esse ser? 

[...]

Era o meu primeiro teste. A semana toda eu ando mexendo com papéis diversos. Eu finalmente estou livre da faculdade de Direito. Livre, livre, livre. 

Acho que eu nunca estive tão nervosa na minha vida. Eu devo ter dormido tipo, umas três horas durante a semana toda. - Posso dizer que eu realizei as tarefas da minha pequena lista mental, principalmente o café do Starbucks - Eu estou ficando maluca. Decorar frases, assumir sentimentos de personagens, ensaiar e ensaiar. Entro pela porta de um teatro onde fora marcado o teste para uma das faculdades de teatro de Londres. Devo confessar que eu sou tão ansiosa, que eu me inscrevi no teste para todas. Todas. O que me deu mais trabalho. Subi no palco.

A: Olá, meu nome é Allison Forbes, e eu estou aqui para fazer o teste. - Um homem branco e velho usando uma boina legal, acena com a cabeça de um dos acentos no meio, e risca alguma coisa no papel, que provavelmente deve ser meu nome. Ele me olha esperando. Respiro três vezes, controlando o nervosismo, e sorrio entrando na personagem. Eu esperei por isso a vida toda.